quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

I.4 vrtti sarupyam itaratra

Recapitulando os sutras anteriores: Patañjali inicia os sutras dizendo que o yoga começa agora. No segundo aforismo ele explica o que é yoga: o cessar das flutuações da consciência. Quando isso acontece, o observador está situado em sua natureza real. Caso contrário, vivem-se as designações da mente. É o que trataremos no estudo de hoje. 

Nota: Segundo os yogues, não somos o nosso corpo ou os nossos pensamentos, porque estes se modificam a cada instante. Somos muito mais do que isso. Patañjali concebe esse termo como testemunha, observador ou aquele que vê.

O sutra I.4 é traduzido por Guruji como:

Em outras ocasiões, aquele que vê se identifica com a consciência flutuante.

Patañjali nos explica que quando não "controlamos" nossos processos mentais, ficamos sujeitos aos mesmos, vivendo a realidade de acordo com as noções ilusórias da mente desgovernada. Quando aquele que vê se identifica com a consciência ou com os objetos vistos, assume a forma deles e esquece a sua grandeza.

A tendência natural da consciência (citta) é envolver-se com o objeto visto, conduzir aquele que vê até esse objeto, e fazer com que aquele que vê, o observador, se identifique com o objeto. O resultado é que o observador é absorvido no objeto. Este processo se converte em uma semente de diversificação da inteligência, e faz com que o observador esqueça sua própria e radiante percepção consciente.

Quando a alma não irradia sua própria glória é sinal de que a faculdade pensante se manifestou no lugar da alma.

Como isso acontece? A impressão dos objetos é transmitida à consciência através dos sentidos de percepção. Citta (a consciência) absorve estas impressões sensoriais e é colorida e modificada por elas. Dessa maneira, ao identificar-se com as coisas vistas, citta se turva e provoca modificações no comportamento e no humor.

Apesar de citta não ter forma, Guruji sugere que a visualizemos a fim de apreender suas funções e limitações. Imaginemos que a consciência é como uma lente óptica, que em si mesma não contém nenhuma luz, mas que se encontra colocada diretamente por cima de uma fonte de pura luz, a alma. Uma face da lente, a que olha para o interior, em direção à luz, permanece clara. Na vida cotidiana somos muito mais conscientes da faceta superior da lente, a que está voltada para fora, em direção ao mundo, e que está vinculada através dos sentidos e da mente. Esta superfície serve tanto como sentido e como conteúdo da consciência, junto com o ego e a inteligência. Influenciada pelos desejos e medos da turbulenta vida mundana, fica embaçada, tornando-se opaca, impedindo que a luz da alma brilhe através da lente. Como carece de iluminação interior, busca com avidez as luzes artificiais da existência condicionada.

Toda a técnica do yoga, sua prática e controle, tem como objetivo dissociar a consciência de sua identificação com o mundo externo, recolher os sentidos emanados, e limpar e purificar a lente da consciência, até que transmita total e unicamente a luz da alma.